Como o dia amanheceu sem nuvens no céu, chegara o dia de conhecer o principal cartão postal da Cidade do Cabo, quiçá da África do Sul: a Table Mountain, montanha com o cume em formato plano, lembrando uma "mesa" (daí o nome) proclamada em 2011 como uma das sete maravilhas naturais do mundo, em eleição global realizada pela fundação new7wonders, iniciada em 2007 e que contou com a participação de pessoas de todo o mundo.
Novamente fomos tomar nosso café da manhã no agradável terraço do hostel. Desta vez havia um hóspede metido a chef que achava que a cozinha era só dele fazendo uma cacetada de omeletes que atrasou nosso lado para fazermos nossos sanduíches. Ainda por cima depois chamou a atenção da Juliana porque ela gastava água demais para lavar a louça. Tá certo que em 2017 toda a região do Cabo estava passando por uma crise de falta de água (crise que depois descobrimos que é recorrente na região), inclusive nos banheiros de todos os estabelecimentos sempre havia placas alertando para que se gastasse somente o necessário para a higiene e no próprio hostel havia um tempo máximo definido para os banhos, mas achamos bem desnecessário ouvir sermão de um carinha que não era nem funcionário do hostel.
Feito o desjejum, partimos então para mais um dia desbravando Cape Town. A ideia inicial era além da Table Mountain, subir até o Signal Hill para ver o pôr-do-sol. Signal Hill é outro ponto turístico bastante visitado, principalmente para apreciar o pôr-do-sol no oceano, visto que trata-se de uma colina que fica num ponto estratégico com uma vista panorâmica da península, tendo como pano de fundo a Table Mountain. Também é um lugar de fácil acesso todo por uma estrada asfaltada saindo da avenida que leva à Table Mountain e, embora não haja transporte público para lá, dizem que é bem fácil subir a pé e conseguir uma carona no meio do caminho e pra voltar. Sendo assim, ficamos de subir a Table Mountain somente à tarde, até porque dizem que pela manhã é o horário mais movimentado, com filas de mais de uma hora para se pegar o teleférico e inclusive é mais barato o preço dele após às 14 horas.
De manhã então, fomos dar uma passada para conhecer o "Victoria & Alfred Waterfront", ou só V&A Waterfront, antigo cais da cidade que foi todo revitalizado e transformado em complexo turístico, se tornando um dos lugares queridinhos e uma das principais atrações turísticas da cidade. Mais uma semelhança com o Rio de Janeiro, neste caso, o equivalente à hoje o píer Mauá. Para chegar lá, utilizamos o MyCity, serviço de ônibus públicos muito bom, um dos legados da Copa do Mundo de 2010.
Dizem que antes da Copa o transporte público em Cape Town era praticamente inexistente, tendo que os moradores se virarem com táxis ou com as caóticas vans. Em 2010, em razão da Copa do Mundo, foi implementado um serviço de ônibus inspirado em cidades exemplo de transporte público (Curitiba por exemplo) que funcionam com cartão e corredores exclusivos. Além disso, as linhas e os horários são muito bem definidos, quase que como se fosse um metrô, além de contar com algumas estações fechadas que servem de conexão, em que é possível fazer a troca de linha sem pagar nada a mais por isso. Resumindo, ao contrário do resto do país, é muito fácil se locomover na Cidade do Cabo, pelo menos na região central e nas zonas mais turísticas.
Dito isso, seguimos então para a estação Adderley para comprar nosso cartão MyCiti e carregá-lo, lembrando que este não é vendido em qualquer parada de ônibus, somente nas estações, pontos onde se pode fazer a troca para ônibus de outras linhas, diferentemente das paradas normais que, como se fosse um metrô, você passa o cartão para entrar na estação e não dentro do ônibus. Os ônibus MyCiti são realmente muito bons e confortáveis e rapidinho descemos na parada Breakwater, uma das diversas paradas que cercam o V&A Waterfront.
O Cais é realmente um lugar bem agradável de se passear, embora bastante elitizado. Descendo na estação Breakwater, de primeira para se chegar à zona do píer propriamente dita, passa-se por dentro de um shopping e complexo hoteleiro bem ostentação e gigante, que ocupa os dois lados da avenida onde se desce do ônibus, só com lojas chiques: o Victoria Wharf Shopping Center.
Uma das entradas do píer, pelo Victoria Wharf Shopping
Agora sim no cais mesmo, este ocupa um espaço enorme, contando com diversas lojas, museus, restaurantes entre outras atrações às margens da baía de Cape Town, tendo o local roubado o posto da Table Mountain de ponto turístico mais visitado na cidade nos últimos anos.
E por falar nela, no píer encontramos vários pontos onde pode-se observar a Table Mountain de forma privilegiada, inclusive com locais indicativos para "enquadrar a sua selfie".
Fazendo coisa de turista
No Waterfront, aproveitamos para dar uma olhada em algumas lojinhas de artesanatos e souvenires turísticos, com destaque para a lojinha African Trading Port, que embora contasse com preços acima do normal, ainda assim são preços normais para nós brasileiros e ainda por cima artesanatos de excelente qualidade, bem diferentes dos que tínhamos conferido lá pelo centro.
African Trading Port, lojinha bem bacana de artesanatos no Waterfront
Assim como no cais revitalizado no Rio de Janeiro (e diversos cais turísticos pelo mundo), que conta com o museu do amanhã, roda gigante e um aquário turístico. Aqui também há diversos museus, com destaque para o novíssimo museu Mocaa, inaugurado em 2017 (ano que estávamos lá) e que hoje é considerado o maior museu de arte contemporânea da África e maior museu do mundo dedicado à arte produzida por artistas africanos. A Cape Wheel, roda gigante de 40 metros de altura que permite visuais incríveis da baia. E também o Two Oceans Aquarium, aqueles aquários turísticos que você meio que "entra" dentro do mar e pode visualizar milhares de espécies de animais marítimos.
Atrações do pier e a Juju sempre fazendo amigos
E por falar em museus, é aqui que partem os passeios rumo à Robben Island, famosa ilha prisão que fica próxima da costa e lugar onde Nelson Mandela ficou preso por mais ou menos 18 anos, hoje transformado em museu com passeios guiados que contam diversas histórias (pesadas) do local, com destaque é claro, para a cela onde ficou Nelson Mandela, sendo este mais um passeio imperdível de se fazer para quem visita a Cidade do Cabo e que nós, infelizmente, pelo pouco tempo na cidade, perdemos (fica pra próxima).
No pier há bastante movimento de embarcações
Em suma, visitar o V&A é um lugar para se ir várias vezes para poder aproveitar bem todas as suas atrações. Muitos turistas (não mochileiros) inclusive escolhem se hospedar pela região para aproveitar o fim da tarde de passeios curtindo o por do sol pelo cais e tomando um café nas diversas cafeterias gourmets que tem por ali. Inclusive, nossa ideia inicial neste dia era voltar lá para conferir o lugar à noite.
Chegando o horário do almoço, na beira do píer ficam diversos restaurantes e cafés chiques, inclusive tinha um de comida brasileira quando fomos lá e que, apesar de elitizados, quando se compara com o Brasil, preços muito mais em conta. Mas de qualquer forma, no Waterfront há também um food market, aqueles galpões descolados com diversas barraquinhas de comidas gourmet dos mais variados tipos, igual ao que havíamos almoçado no dia anterior lá no centro, o V&A Food Market e pra lá que fomos procurar algo pra comer. E, assim como no dia anterior, de tantas opções de comidas dos mais variados tipos e banquinhas de diferentes cervejas artesanais, fica difícil de escolher. Optamos por uma comida oriental "fusion" bem exótica (mistura de sushi com arroz e feijão) então e uma cerveja artesanal que diziam ter ganhado vários prêmios nos últimos anos.
Decoração "hipster" do V&A Food Market e nosso almoço "fusion"
Depois do almoço, demos mais uma descansada no agradável píer. Sentamos num banquinho em frente a um local bem legal que tem ali que é a Praça Nobel, pequeno espaço onde ficam lado a lado quatro esculturas em homenagem a quatro sul africanos que ganhadores do prêmio Nobel da paz, principalmente pelo seu papel na luta contra o Apartheid: Nelson Mandela, Desmond Tutu, o ex-presidente branco que estabeleceu o fim ao Apartheid, De Klerk e Albert Luthuli, ex presidente do CNA defensor da não-violência, preconizada por Gandhi na África do Sul e primeiro negro a ganhar um Nobel. Antes de seguir viagem, ficamos ali curtindo os pássaros "fazendo a festa" nas estátuas meio caricatas destas quatro grandes (e importantíssimas) figuras mundiais.
Nobel Square e o passarinho desrespeitando a estátua do Mandela
Partimos então para o "ápice" da nossa visita à Cape Town, a subida à Table Mountain. Para isso tivemos que pegar um ônibus novamente na estação Brakewater e "voltar" até a estação "Civic Centre", espécie de estação central dos ônibus MyCiti, que fica ao lado da estação central de trem de Cape Town, visto que não há ônibus diretos do Waterfront pra lá.
Ficamos impressionados com essa estação. Parecia um shopping! Bem ajeitadinha, sem nenhuma sujeirinha no chão e portões individuais onde tu esperava o teu ônibus, quase como uma área de embarque de aeroporto, muito legal! Para brasileiros que nem nós, olhando as fotos nunca diríamos que aquilo seria um terminal de ônibus público.
Embasbacados com a estação de ônibus Civic Centre
Dali pegamos o ônibus 107 até a parada "Kloof Nek", que fica numa rótula a caminho da praia Camps Bay onde de um lado fica a estrada para Signal Hill e Lion´s Head e do outro a Tafelberg Road (que significa Table Mountain em Afrikanêr), estradinha para a Table Mountain. Dali a apenas 1 quilômetro e meio já fica o prédio onde se pega o teleférico para subir a Table Mountain mas, para evitar uma caminhada numa subida e debaixo do sol, pode-se pegar o ônibus 110 da MyCiti gratuito, que sai de um estacionamento ali na rótula mesmo onde descemos e leva até o prédio do teleférico (que foi o que nós fizemos). A parada de ônibus e a entrada do teleférico fica numa parte mais elevada que já proporciona bonitas vistas da cidade.
Parada de ônibus em frente à entrada do teleférico. Na foto à direita, A Lion´s Head e Signal Hill ao fundo, respectivamente à esquerda e a direita
Existem diversas trilhas dos mais variados tamanhos e dificuldades e com paisagens estonteantes que levam ao topo da Table Mountain, o que faz dela uma atração gratuita! O melhor de tudo é que elas são todas sinalizadas e com o trajeto mapeado no Google Maps (algumas tem até street view). As mais famosas e procuradas são a India Venster e a Platteklip Gorge, consideradas de dificuldade baixa, com 2 a 3 horas de percurso e que partem (e terminam) bem próximas ali do terminal do teleférico. Queríamos ter as duas experiências (trilha e teleférico), então, achando que para descer todo santo ajuda, optamos por subir de teleférico e descer pela trilha (o que acabou sendo a pior opção).
Como esperado, a fila para subir de teleférico a essa hora da tarde não estava tão grande e em menos de uma hora já estávamos embarcando. O atendente quando viu nosso bilhete só de subida, olhou para nossa cara de sedentários com espanto e perguntou se tínhamos comprado o bilhete certo hehehe.
O teleférico vai atrolhado de gente e é bem pequeno, não sendo muito proveitoso para apreciar a vista apesar dele subir girando em torno dele mesmo 360º graus fazendo com que se pudesse ver todos os ângulos da paisagem. Em menos de 5 minutos já estávamos lá no topo.
Subindo a Table Mountain de teleférico
Demos muita sorte de pegar um céu praticamente sem nuvens e sem muito vento (apesar de que estava sim um ventinho meio gelado). Dizem que é comum a suspensão do serviço de teleférico sem aviso prévio, devido às condições climáticas que mudam bruscamente, tanto que o bilhete do teleférico comprado previamente pela internet não possui data específica, facilitando que possa ser usado em outro dia caso se chegue lá e do nada as viagens estejam suspensas. Também no embarque há diversas televisões que mostram como esta a vista lá do alto, bem parecido com o embarque do bondinho para o cristo no Rio de Janeiro, daí a pessoa pode olhar e se achar que o tempo está muito fechado, dá meia volta e retorna outro dia (privilegio que pessoas como nós que viajamos com os dias contados normalmente não temos).
Enfim, chegamos ao topo da Table Mountain e de cara já fica-se embasbacado com a paisagem.
Vista do topo da Table Mountain
A Table Mountain é considerada uma das montanhas mais antigas do mundo. Há resquícios de ocupação da montanha por seres humanos que datam de 30.000 anos atrás. Na história mais recente, antes da chegada dos europeus, era habitada pelo povo Khoisan, que a batizaram de Hoerikwaggo (Montanha do Mar) e acreditavam que a montanha era sagrada e a morada de um Deus.
Fiquei imaginando os Europeus chegando por ali pelo mar para colonizar e destruir com os povos originários, como deve ter sido se deparar com essas montanhas esplendorosas, impossível não terem ficado emocionados e hipnotizados pela beleza. Tanto é que os portugueses, primeiros europeus que passaram por ali, trataram logo de desbravá-la, em 1503, com o português Antonio de Saldanha recebendo o título de primeiro estrangeiro a subir a Table Mountain, ocasião em que a batizou de "Tábua do Cabo".
Table Mountain, uma das 7 maravilhas do mundo
Somente por volta de 1930, já sob domínio Afrikanêr, começou-se uma preocupação com a preservação do local e o mesmo foi transformado em reserva natural, hoje administrado pela South African National Parks (SAN Parks), empresa pública que administra quase todos os parques e reservas naturais do país. Por esta mesma época foi instalado o bondinho teleférico, ou seja, ele é bem antigo. Uma curiosidade: nos anos 2020 um pequeno grupo Khoisan ocupou um pedaço do parque nacional da Table Mountain como forma de pressionar o governo pela devolução da posse da região ao povo Khoisan originário, como legítimos donos da montanha.
Olhando de baixo, a Table Mountain parece um grande planalto reto (como uma tábua mesmo), mas lá em cima o terreno é bastante acidentado com bastante pedras pra subir e descer rendendo fotos espetaculares (e servindo pra cansar os tornozelos também).
Mais vistas de tirar o fôlego
Lá em cima são oferecidas caminhadas guiadas gratuitas, que saem de hora em hora do Twelve Apostles Terrace, terraço que fica em frente à lojinha e a lanchonete, bem na saída do teleférico, sendo a última do dia às 15h. Preferimos transitar livremente pelo topo e dispensar a visita guiada, mas deve valer a pena sim fazer e descobrir mais sobre a montanha. Sendo assim, percorremos toda a volta na "borda" da montanha. Esse passeio lá no topo é divido em 3 "trilhas" que se pode fazer: a Dassie, Agama e Klipspringer, mas na verdade consiste mais em passear pela borda mesmo, apreciando diversos pontos de vista de cima da montanha, o que por ser um espaço bem curto, mais ou menos 3 quilômetros de área total, se consegue em no máximo 1 hora (contando as infinitas paradas para babar pela paisagem).
Trilhas no topo da Table Mountain
Nesse caminho é bem comum toparmos o tempo todo com os simpáticos "Dassies", animais muito famosos por ali que lembram uma capivara só que menor. Lembremos que a Table Mountain é uma reserva ambiental, extremamente importante para a preservação da diversidade da fauna e flora do Cabo, contando com diversos animais selvagens dentro do parque, sendo os Dassies os principais habitantes, junto com alguns pássaros típicos e que já estão mais do que acostumados com os turistas, o que não é necessariamente algo bom, já que sempre tem aqueles que tentam dar comida que não deve além de tentar abraçar os bichinhos coitados.
Dassies e pássaros que habitam a Table Mountain
E por falar em paisagens, um dos pontos mirantes mais bonitos pra se admirar a vista é justamente próximo ao Twelve Apostles Terrace, onde pode-se ver ao fundo as montanhas apelidadas de "os doze apóstolos" com a praia de Camps Bay abaixo. Forçando um pouco tu consegue enxergar até o Cabo da Boa Esperança bem lá longe, o ponto mais sudoeste da África.
Vista do lado oposto
Com a tarde avançando, o vento começou a ficar cada vez mais forte e frio, passando a ficar bem complicado a situação lá em cima. Chegou uma hora que não conseguíamos mais nem curtir a paisagem direito de tanto frio e vento na cabeça. Turistada também começou a se mandar para a fila do teleférico com medo de que o mesmo fosse suspenso do nada e tivessem que descer a pé, formando uma fila gigantesca para pegar o bondinho.
Fila gigante para pegar o bondinho
Aproveitamos a diminuição do movimento para conferir a lanchonete lá de cima. A lanchonete tinha uns preços um pouco abusivos, mas possuía aquecedores próximos das mesas extremamente convidativos (e um alívio para aquele frio que fazia lá fora), o que nos fez parar para comer um pedaço de pizza e tomar uma cerveja artesanal, até para dar aquela energia para começarmos a descida depois né hehehe.
Quase perto das 16 horas, começamos então a descida da Table Mountain. Nossa ideia era fazer a trilha Platteklip Gorge, considerada a mais fácil de todas com duração média de duas horas. Na internet da lanchonete conferimos que o último ônibus MyCiti gratuito que partia da parte baixa do teleférico era às 19h30, normal na África do Sul o transporte público encerrar cedo, então saindo às 16 horas, teríamos tempo suficiente para chegar lá tranquilões (pelo menos era o que achávamos hahaha). De cara já demoramos para encontrar o inicio da trilha. Seguimos até o lado oposto do terraço dos doze apóstolos, na outra ponta da "tábua" e não encontramos nada que parecesse com um início de uma trilha. Até que vimos um pessoal seguindo por um caminho que era uma descida perto de uma nascente de água e os seguimos.
Começo da trilha
Aí então que começa a trilha "de dificuldade baixa". O primeiro trecho é praticamente uma descida num caminho de pedras bastante irregulares, quase que como uma escadaria mas com algumas bem altas em relação à próxima no caminho. Grande parte do arranjo das pedras também são intervenção humana, com algumas grades de contenção inclusive para evitar desmoronamentos ou quedas.
Segue-se nessa descida em zigue-zague que parece não ter fim, como dá pra ver direitinho no google maps, no meio de uma fenda na montanha, o que ajuda bastante na contenção do vento. Como a diferença de nível entre um "degrau" e outro é muito irregular, tu acaba forçando demais a perna a cada descida para apoiar a pisada, ou seja, é menos cansativo subir do que descer, e aí de cara já percebemos que foi burrice nossa a escolha de subir de teleférico e descer pela trilha, deveríamos ter feito ao contrário. Ainda pra variar, como bons mochileiros de apartamento que somos, não levamos uma garrafinha de água ou barrinha de cereal sequer para nos hidratarmos e nos alimentarmos durante o caminho...
Descida em meio à fenda na montanha
No caminho pode-se apreciar a impressionante biodiversidade floral do Cabo, com a vegetação "Fynbos" única no mundo.
Fynbos é o nome de um dos seis reinos florais do planeta, sendo ele o mais diversificado de todos com mais de 9 mil espécies de plantas e dessas, aproximadamente 6 mil só existem ali na região do Cabo, fazendo do Cabo a região com a maior diversidade floral do mundo e considerada por organizações ambientais a preservação dessa região uma prioridade para a conservação mundial da biodiversidade.
Destas plantas, a que mais se destaca por sua beleza e presença constante são as Proteas, flores símbolo da região que estão por toda a parte contando a região do Cabo com quase 65% de todas as espécies de forma endêmica, ou seja, só se encontra lá. Essa flor é muito bonita e ficamos até com vontade de levar umas sementes que vimos para vender noutro dia em Stellenbosch, outra região onde se encontra dezenas delas.
Flora da Table Mountain, com destaque para as Proteas na última foto
Aliás, falando em biodiversidade floral, outra atração imperdível na Cidade do Cabo (e que nós perdemos) é uma visita ao Jardim Botânico Kirstenbosch, primeiro jardim botânico do mundo a receber o título da UNESCO de patrimônio da humanidade e que abriga mais de 7 mil espécies de plantas endêmicas da região, sem nenhuma espécie exótica, que além de ser um importante centro de pesquisa botânica é um espaço de lazer belíssimo na cidade, com lindas vistas da Table Mountain de pano de fundo.
Depois do que parecia ser umas 5 horas descendo em zigue-zague, chega-se em uma área mais aberta e a partir daí, junto com o sol que já estava bem baixo, a paisagem é espetacular, dando uma energia extra para continuar a caminhada.
Durante toda trilha, a paisagem é surreal!
Numa encruzilhada onde se juntam diversas trilhas diferentes, todas sinalizadas, resolvemos seguir pela trilha India Vernster, pois essa segue contornando a montanha em linha reta, dando uma trégua da descida sem fim e ainda deixando bem mais próximo da parada de ônibus no ponto de baixo do teleférico. Foi uma boa escolha porque essa trilha é bem bonita, passa-se por debaixo de pedras bem rente ao desfiladeiro com algumas tímidas quedas d´água e, apesar de um pouco perigoso devido ao risco de quedas, muito melhor andar numa superfície mais ou menos plana do que forçar ainda mais as panturrilhas descendo pedras.
Margeando o desfiladeiro. Pela cara da Juju dá pra ver nosso nível de cansaço nesta hora
Já passavam de três horas e meia de caminhada e parecia que não chegávamos nunca. Quando se aproximava do horário do suposto último ônibus, tentei dar uma apressada no passo mas a Juju já estava com 0% de energias, forçando com que parássemos no meio do trajeto, o que era ótimo para apreciar mais um pouco aquela vista fantástica.
Juju fingindo que não estava cansada
Quando finalmente chegamos no caminhozinho final, uma descida entre pedras que levava até a saída do teleférico, avistei o ônibus lá embaixo e dei uma embalada para pelo menos pedir para ele nos esperar para sair, com a Juju totalmente morta de cansada ficando bem pra trás.
Último trecho da trilha com o prédio do teleférico ao lado da parada de ônibus bem abaixo e a Juju dando seu último gás
No fim nem precisou, o motorista nem estava ainda no ônibus e deu tempo suficiente para chegarmos, nos sentarmos e capotarmos durante a viagem. No fim levamos praticamente 4 horas para descer a trilha que dizem ser de duas a três horas, com as pernas, coxas, joelhos e panturrilhas destroçadas. E se nossa ideia inicial do dia era depois da Table Mountain ainda subir até Signal Hill para ver o pôr-do-sol, nem preciso dizer que essa ideia foi totalmente abandonada.
Mortos de cansados, chegamos no hostel, só ficamos um pouco na área comum e já nos recolhemos, ficou para outro dia conhecer a noite na Long Street.
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